A prece é o traço de união entre a Terra e o Céu
Leda Maria Flaborea
A prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades.
Depois da prece, se a pessoa é fraca, sente-se mais forte; se está triste, sente-se consolada.
Tirar a prece é privar o homem de seu mais poderoso suporte moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma, entra em co-munhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. Sem a prece, seus pensamentos permanecem na Terra e se ligam cada vez mais às coisas materiais. Daí um atraso no seu adiantamento.
Jesus conhecia a dificuldade que o ser humano tem em expandir-se espiritualmente, por causa das preferências materiais, pelo desejo do prazer e do poder, que acabam por lhe criar inúmeros problemas que, cedo ou tarde, deverão ser solucionados, queira ou não.
O Mestre sabia disso por-que, conhecedor da natureza humana e entendendo os conflitos de todos aqueles que O procuravam, sofridos, mascarando as realidades íntimas que lhes corroíam a alma, sem se darem conta das suas ver-dadeiras necessidades, não parava de lhes recomendar a mudança da conduta mental e moral.
O objetivo do Excelso amigo era o de que se operasse nas criaturas, sobretudo nos desejosos de saúde, a renovação interior, a fim de que se concretizasse, no mais profundo de si mesmos, o bem-estar.
A estimada benfeitora espiritual Joanna de Ângelis lembra que, como as criaturas nem sempre soubessem manter a vinculação com as Fontes da Vida, Jesus sugeriu a oração, que se constitui numa ponte vibratória de fácil construção por todo aquele que deseje realmente a vitória sobre os sofrimentos e anelem pelo bem-estar pleno.
Oração é emanação do pensamento bem direcionado, rico em conteúdos vibratórios que se expande até sincronizar-se com ondas semelhantes. A prece nos coloca, portanto, em relação mental com o ser a quem nos dirigimos.
Quando voltada para o amor e o bem, dilui energias negativas e renova as forças morais daquele que ora, promovendo alterações na paisagem mental e orgânica, através de processos delicados de modificação da atmosfera psíquica na qual a pessoa se encontra.
Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é ela que conduz esse pensamento, ampliando o ao infinito. Então, quando o pensamento se dirige para algum ser, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado ou vice-versa, uma corrente de energia se estabelece de um para outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. Assim, a força dessa corrente vai depender da energia do pensamento e da vontade de quem ora.
É dessa forma que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem. Também é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas sugestões (boas ou más) e que as relações se estabelecem entre os próprios encarnados.
Importante lembrar: ainda que a prece possa exercer ação direta e positiva, ela estará sempre sujeita à vontade de Deus, Juiz Supremo de to-das as coisas e único que pode dar eficácia à sua ação.
Ensina-nos o Evangelho que a prece tem por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor. Daí a necessidade de prestarmos atenção ao que pedimos, pois existe uma diferença entre o querer, o merecer e o precisar. A oração não modifica as leis estabelecidas, cabe a nós sermos absolutamente honestos e coerentes ao nos dirigirmos a Deus nas nossas preces.
O ato de orar já constitui uma expressão de humilda-de perante a Vida, e de alguma forma um despertar da consciência para a compreensão da existência de um ser superior. Certo que essa doação não é gratuita por parte da Divindade de tudo aquilo que a insensatez busque, numa tentativa astuciosa e tola, de ludibriar as Leis Divinas. O homem, sendo responsável pelos seus atos, enfrentará sempre, no caminho, as consequências das escolhas infelizes que fizer.
A oração para o homem, que tem vontade real de superar suas dificuldades, sustenta-o, direciona-o para acertar o novo caminho; dá-lhe mais segurança para vencer os obstáculos e equipa-o com alegria e vigor para não desanimar diante dos obstáculos. Assim, quando qualquer um de nós resolve mudar suas atitudes e decide pedir ajuda, conseguimos nos libertar dos grilhões do orgulho e nos colocamos receptivos ao auxílio do Mais Alto.
Essa transformação ínti-ma é tão importante para que a ajuda venha, que em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII, item 11, é dado um exemplo bastante esclarecedor: “Um homem sente sua saúde arrui-nada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim de seus dias, uma vida de sofrimentos. Tem ele o direi-to de queixar-se se não conseguiu a cura? Evidente que não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações”.
Jesus sabia de tudo isso, e por essa razão estimulava os homens, como faz até hoje, a se esforçarem para conseguir o Reino de Deus dentro de si mesmos.
O Espiritismo faculta-nos compreender a ação da prece ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atenda ao nosso apelo, seja quando nosso pensamento eleva-se a ele.
O poder da prece está no pensamento, sabemos hoje, e não depende das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a sós ou com outras pessoas. O lugar e tempo só dependem das circunstâncias que possam favorecer esse recolhimento.
Se dividirmos os males da vida em duas categorias, sendo uma a dos que o homem não pode evitar, e a outra, a das atribulações que ele mesmo provoca, pelos seus descuidos e excessos, verificaremos que a segunda é muito maior que a primeira.
Parece evidente que somos os autores da maior parte das nossas aflições, que não existiriam se vivêssemos com prudência, sem ultrapassar o limite do necessário, em exigências vitais que provocam doenças, e às vezes até a morte.
Se limitássemos nossas ambições, não teríamos medo da ruína. Se fôssemos mais humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho ferido; se praticássemos a caridade em sua plenitude, não seríamos maledicentes, invejosos, nem ciumentos, evitaríamos discussões inúteis e dissensões. Se não fizéssemos mal algum, não teríamos o que temer. E tantas outras atitudes que poderiam nos fazer felizes e que não praticamos, muitas vezes, por não prestarmos atenção àquilo que fazemos ou dizemos.
O Evangelho nos alerta ainda para o seguinte: Admitindo que nada pudéssemos fazer contra os outros males; que todas as preces fossem inúteis para nos livrarmos deles; já não seria muito poder afastar todos os que decorrem da nossa própria conduta?
Neste caso, podemos conceber facilmente a ação da prece que tem por finalidade atrair a ajuda dos Bons Espíritos e pedir-lhes força para resistirmos aos maus pensamentos, cuja execução pode nos ser funesta.
E por nos atenderem nisto, dizem os Espíritos superiores que “não é o mal que eles afastam de nós, mas é a nós que eles afastam do pensa-mento que pode nos causar mal; não atrapalham em nada os desígnios divinos, nem suspendem o curso das leis, ao orientarem nosso livre-arbítrio”. Mas o fazem sem que o percebamos, de maneira oculta, para não prejudicar a nossa vontade.
Deus quer que assim seja para que tenhamos responsabilidade dos nossos atos e para nos deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. Mesmo reduzida a essas proporções, a prece dá imenso resultado.
Renunciar a ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a Sua assistência, e para os outros, o bem que se poderia fazer.
Assim, pensando na responsabilidade que temos diante das leis divinas, conseguimos compreender a advertência do Mestre ao nos solicitar vigilância e oração na nossa vida diária.
Vigilância aos nossos sentimentos, aos nossos pensamentos, palavras e ações; e oração, buscando o amparo, a força e o discernimento para resistirmos às tentações. São ambos, vigilância e oração, escudos protetores do nosso caminhar seguro rumo ao Pai.
Bibliografia:
JOANNA DE ÂNGELIS (Espírito). Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, [psicografado por] Divaldo Pereira Franco - 1ª ed., Livraria Espírita Alvorada Editora, SALVADOR/BA, 2000, pág. 219.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 27, Itens 1 a 15.
EMMANUEL (Espírito). Pala-vras de Vida Eterna, [psicografado por] F. C. Xavier – 20ª ed., Edição CEC (comunhão Espírita Cristã) – 1995, lição 166.