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sábado, 2 de janeiro de 2016

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA (FEB) COMPLETA 132 ANOS


Há 132 anos iniciavam-se os trabalhos da FEB, com a missão de oferecer a Doutrina Espírita ao ser humano por meio do seu estudo, prática e difusão, pela união solidária dos espíritas e unificação das instituições espíritas, contribuindo para a formação do homem de bem. 


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Início do Século XX


Grandes realizações caracterizam esse período. Em 1901 procedeu-se à revisão nos Estatutos, com inovações de alto interesse, destacando-se a reorganização da Assistência aos Necessitados e os dispositivos referentes à filiação das instituições espíritas de todo o Brasil, com vistas à unificação, sob a forma federativa, plenamente aprovada, na prática. Definiu-se, desde então, o significado da unificação, com vistas à união solidária e fraterna, sem prejuízo da autonomia individual, administrativa e patrimonial das entidades adesas.

A 3 de outubro de 1904 transcorreria o centenário do nascimento do Codificador do Espiritismo. Os espíritas de todo o mundo comemorariam de alguma forma aquela data.Reformador lançou, com muita antecedência, a ideia de reunir no Rio de Janeiro os representantes dos centros e sociedades espíritas de todos os Estados, em homenagem ao missionário.

O convite foi bem recebido. A Federação organizou programa de três dias, compreendendo conferências, encontros fraternais, inauguração de cursos, encerrando-se a jornada com sessão solene, na noite de 3 de outubro, no salão da Associação dos Empregados do Comércio, reunindo multidão de cerca de 2.000 pessoas. Nesse encontro de âmbito nacional, de significativa importância, fïzeram-se representar os espiritistas dos Estados do Amazonas, Alagoas, Bahia, Espírito
Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, além das Casas Espíritas da Capital Federal.

O ponto mais importante foi a apreciação e aprovação das “Bases de Organizarão Espírita”, documento que passou a orientar a marcha do movimento espiritista no nosso País. Preconizaram as “Bases” a criação de uma Instituição na Capital de cada Estado brasileiro, a qual ficaria incumbida de filiar os Centros e Associações estaduais, formando assim, com a FEB, uma rede de entidades fortalecidas na solidariedade e na fraternidade.

Instituíram um programa doutrinário básico, semelhante ao da Federação, com  fulcro nas obras O Livro dos Espíritos, e O Livro dos Médiuns, facultando-se o estudo dos Evangelhos, segundo a tendência de cada entidade, pela obra O Evangelho segundo  o Espiritismo ou Os Quatro Evangelhos. Recomendaram ainda a fundação de escolas de médiuns, objetivando o preparo dos médiuns por meio do estudo doutrinário, a criação de caixas de socorro, semelhantes à Assistência aos Necessitados, serviços de curas espíritas através de receituário homeopático, aulas de instrução elementar e secundária e outras providências.

Pelo simples enunciado do conteúdo desse importante documento percerbe-se sua importância. Naquilo que contém de essencial, ao traçar diretrizes para todo o Movimento Espírita, ele ainda subsiste em nossos dias, de vez que foi incorporado aos Estatutos da Federação Espírita Brasileira e no denominado “Pacto Áureo”, item 2º”.

Décadas de 30 a 50


O espaço de tempo ocupado pelos anos de 1930 a 1950 tem especial significação na vida da Instituição. Crescera o Movimento Espírita com a fundação de inúmeros Centros espalhados por todo o território nacional. Alguns jornais e revistas faziam a divulgação, secundando o trabalho nas tribunas das casas espíritas.

Desde 1891 cogitara-se da ideia de montagem de uma oficina para a impressão deReformador e de obras de propaganda. Passavam-se os anos e a ideia era acalentada, e adiada por falta de recursos.

Guillon Ribeiro, presidente eleito novamente em 1930, reviveu o projeto e transformou-o em realidade. Em 4 de novembro de 1939 estava instalada pequena gráfica no térreo da Avenida Passos, 30, fundos, passando a editar livros e o mensário da Casa.

A obra de Guillon Ribeiro marcou profundamente a vida da Federação. Presidente no ano de 1920 a 1921, seu segundo mandato durou de 1930 a 1943, em sucessivas reeleições. Ocupou praticamente todos os cargos da direção, antes de 1930. Como Diretor de Reformador, todos os serviços da revista passavam por suas mãos. Suas traduções das obras da Codificação tornaram-se definitivas na FEB, pela segurança e confiança inspiradas, contando-se hoje por milhões de exemplares, em sucessivas reedições. Grande conhecedor da língua francesa, sabendo igualmente o inglês, o italiano e o espanhol, seu trabalho prima pela fidelidade ao pensamento original e pela beleza da forma no vernáculo, o que lhe dá primazia incontestada entre os demais tradutores.

Foi em sua gestão que começaram a ser editados os livros de Francisco Cândido Xavier, o primeiro dos quais, Parnaso de Além-Túmulo, em 1932, causou verdadeiro impacto nos meios culturais brasileiros. Essa obra poética, que confundiu os céticos e agraciou os adeptos ao Espiritismo, seria apenas o prelúdio de uma torrente imensa vazando da Espiritualidade para os homens, a lhes reafirmar a chegada dos tempos.

Pela mediunidade de Chico Xavier vieram à luz, nessa fase, as obras de Emmanuel A Caminho da Luz, síntese histórica da Terra; Emmanuel”, ensaio sociológico; os romances históricos Há dois Mil Anos, 50 Anos Depois e Paulo e Estevão; Consolador; a série Caminho, Verdade e Vida, Pão Nosso, Vinha de Luz e Fonte Viva (1956), além de diversos outros livros edificantes.

A partir de 1943, com Nosso Lar, novo autor espiritual se apresenta pelo médium de Pedro Leopoldo, marcando uma nova fase com suas revelações da vida, com seus pormenores das esferas espirituais próximas à Crosta Planetária: André Luiz. A série de seus livros — Nosso Lar, Os Mensageiros, Missionários da Luz, Obreiros da Vida Eterna, No Mundo Maior, Libertação, Ação e Reação, Evolução em dois Mundos e outros — caracteriza-se pela originalidade, despertando enorme interesse no espírito dos estudiosos.

A grande demanda de livros espíritas indicava claramente a expansão do Movimento. Guillon Ribeiro, grande colaborador, retornava à Pátria Espiritual em 1943. Sucecedeu-o na presidência Antônio Wantuil de Freitas, que já vinha colaborando na administração de Guillon há cerca de 10 anos.  Pelo que ficara acordado inicialmente entre os responsáveis pela direção da Casa, Wantuil de Freitas deveria servir no cargo apenas pelo período de um ano. Entretanto, reconduzido sucessivas vezes, presidiu a Casa de Ismael durante 27 anos, o mais longo período presidencial em toda a vida da Instituição. Deve-se a Wantuil de Freitas, com seu largo tirocínio administrativo e impressionante intuição dos acontecimentos futuros, a sólida estrutura montada na FEB para servir à Doutrina e ao Movimento.

Compreendendo que a Espiritualidade realizava sua parte, lançou-se à tarefa de dotar a FEB de uma editora à altura das necessidades. Ajudado por uns poucos companheiros, conseguiu instalar o Departamento Editorial, em 1948, com a aquisição, em 1946, no bairro de São Cristóvão, de velhas casas que fez demolir para a construção, numa primeira etapa, de amplo edifício. Novas construções inauguradas em 1961 e 1968, na Rua Figueira de Melo e na Rua Souza Valente, complementaram a grande oficina de trabalho agora funcionando com duas entradas: Rua Figueira de Melo, 410 e Rua Souza Valente, 17, constituindo hoje a sede do Departamento Gráfico e de parte do Departamento Editorial. O planejamento e estrutura desses dois Departamentos, com previsão de futura expansão, devem ser creditados ao esforço e à visão do presidente Wantuil de Freitas, que superou obstáculos sem conta para levar avante sua missão.

O Pacto Áureo


Em 5 de outubro de 1949 concretizava-se formalmente a unificação da família espirita brasileira, velho sonho acalentado por sessenta anos, desde os esforços inicias de Bezerra de Menezes.

Precedera à Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro um Congresso Espírita Pan-Americano, que atraíra à antiga Capital da República muitos espíritas dirigentes de instituições estaduais. A ideia de aproveitarem a ocasião para se dirigirem à Federação Espírita Brasileira nasceu simultânea e espontaneamente em diversas mentes, buscando-se uma fórmula de entendimento entre todos os espiritistas, que exprimisse as aspirações de fraternidade, preconizada nos ensinos evangélicos, e de organização livre e responsável das instituições espíritas, isenta de imposições e personalismos.

Após entendimentos preliminares, foi marcado um encontro na sede da Federação, com sua Diretoria, ao qual compareceram os representantes das Federações e demais instituições estaduais. O encontro ficou conhecido como Grande Conferência Espírita do Rio de Janeiro, tendo sido lavrada a célebre Ata com os pontos essenciais sobre os quais se assentava o acordo da Unificação.

Os representantes das entidades estaduais, expondo os motivos e as esperanças de todos, elaboraram um esboço que continha determinados princípios e fórmulas para a Unificação, quando foram surpreendidos pelo presidente Antônio Wantuil de Freitas com um projeto de resolução por ele escrito um dia antes, no qual estavam atendidas todas as proposições dos representantes, acrescendo-se ainda outras não reivindicadas.

Os termos em que está vazada a Ata da Conferência são sintéticos e muito conhecidos dos espíritas. Impossível será, entretanto, descrever a emoção e a alegria vividas pelos presentes ao ensejo da feliz conclusão do acordo, alegria que encontrou ressonância nos corações dos espíritas sinceros, ao se espalhar a notícia do acontecimento por todo o Brasil.

Dentre as disposições contidas na Ata de 5 de outubro de 1949, pouco depois denominada Pacto Áureo, em feliz expressão de Lins de Vasconcelos, um de seus signatários, estava a da criação do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, em novas bases, incumbido de executar, desenvolver e ampliar os planos da Organização Federativa em que se assentava a estrutura organizacional do Espiritismo no Brasil.

Instalado e regulamentado logo no início do ano seguinte, o Conselho vem funcionando ininterruptamente desde então, prestando inestimável serviço à causa espírita, dirimindo dúvidas, fortalecendo os laços fraternos, orientando o Movimento, recomendando normas e diretrizes, aproximando instituições e contornando as incompreensões e imperfeições inevitáveis no mundo imperfeito em que vivemos.

É o Pacto Áureo a expressão mais lúcida de entendimento e concórdia entre  cultores da Doutrina dos Espíritos, que podem divergir em pequenos e secundários pontos doutrinários, mas que não têm razão para fazer da divergência pomo de discórdia, de intransigência, intolerância e incompreensão. Ele veio compatibilizar a vivência da Doutrina dentro do princípio da liberdade, sem exclusão do amor fraterno, tornando viável o que parecia inconciliável.