Jamais aposentar-se da vida
Paiva Netto
Vinte e seis de julho é o Dia dos Avós. Por oportuno, apresento-lhes trechos de meu editorial na 24ª edição da Revista LBV
(Jan-Fev de 1992), publicado anteriormente na década de 1980, pela “Folha de S.Paulo”.
Vivemos
época de constante progresso material. Entretanto, não se verifica o
correspondente avanço no campo da ética e do
Espírito. Resultado: males como a fome, a violência e o desrespeito à
Natureza perduram. E lamentavelmente as pessoas da terceira idade também
são atingidas pela frieza dos sentimentos humanos.
É verdadeiro crime não se reconhecer o valor dos Irmãos idosos. Neste período da vida, mais do que nunca se fazem merecedores
do carinho e da solidariedade dos mais moços, num justo reconhecimento à contribuição que legaram à sociedade.
Na
LBV não acreditamos em velhice como sinônimo de coisa deteriorada.
Ninguém é velho quando tem um bom e grande Ideal. Pode
não mais carregar um piano, não mais passear de motocicleta. Se possui,
porém, ânimo dentro de si, é jovem. As pessoas a certa altura da vida
precisam, com raras exceções, aposentar-se de seus empregos, mas não o
devem fazer com relação à vida. Devem ir à luta
enquanto puderem respirar.
A
Legião da Boa Vontade mantém com o seu extenso trabalho de promoção
humana e social os Lares de amparo aos velhinhos. Neles
os vovôs e vovós são tratados com muito Amor e, o que é melhor, aprendem
que nunca é tarde para colaborar em prol de uma Humanidade mais feliz,
pois é a força dos bons exemplos que inspira as novas gerações a
vencerem os obstáculos da existência terrena.
Idade
não dá nem tira caráter a quem quer que seja. E tudo, independentemente
da idade biológica, pode corrigir-se, porque
o Cristo é o médico competente dos males do corpo e da Alma. Na LBV é
inumerável a juventude de cabelos brancos que vibra, constrói lado a
lado com aqueles que — também trazendo dentro de si mesmos o Ideal do
Amor de Deus pela Humanidade — são ainda jovens
no corpo. Aquele que ama o seu semelhante com o Amor do Cristo tem a
pujança e a força interior de Sua Eternidade.
Pode
parecer um paradoxo. Todavia, o país que desampara os seus idosos não
crê no futuro da sua mocidade. Que é a nação,
além de seus componentes? Havendo futuro, os moços envelhecerão. Viverão
mais. Contudo, também irão aposentar-se... Uma convicção arraigada do
gozo imediato das coisas é a demonstração da descrença no amanhã. E há
os que ainda moços pensam: “Vamos viver agora,
antes que tudo acabe! E os que conseguiram resistir tanto, que se
danem...“ Não há exagero algum aqui. É o que também se vê. Tem-se a
impressão de que alguns daqueles que desfrutam do vigor da juventude
ignoram a possibilidade de alcançar a decrepitude. Mas
poderão chegar lá... Não existe futuro sem moços. Também, não o há sem
os idosos.
Temos de aliar ao patrimônio da experiência dos mais velhos a energia dadivosa dos mais moços. (...)
Lutamos
por um mundo que ofereça oportunidades para todos. E isto não é
impossível. Impossível é continuar como está: a terrível
paisagem das almas ressequidas pela indiferença ao Amor de Deus, como os
ossos secos da visão do Profeta Ezequiel. O nosso planeta tem de
receber o sopro espiritual da Vida, pois é rico e muito amplo, com
espaço suficiente para todo mundo. Vovô, vovó, mamãe,
papai, professores... nós, seus netos, filhos e alunos, os amamos e
precisamos ter de vocês toda a experiência, todo o sentimento, todo o
carinhoso incentivo. E isto é essencial na Era do Apocalipse. Os tempos
chegaram.
José de Paiva Netto — Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br
— www.boavontade.com